segunda-feira, 6 de abril de 2020

Depois da queda: o fracasso do comunismo e o futuro do socialismo, de Robin Blackburn (org).

Para os historiadores brasileiros, é sintomático que recentemente o comunismo tenha angariado tantos detratores em pleno século XXI. Envenenado pelo cenário de polarização política experimentado nos últimos anos por herdeiros deste embate ideológico da centúria passada, o debate acerca da política comunista e das características deste regime foram trazidos novamente à tona. Para tentar compreender este momento de ruptura, buscamos a leitura desta obra que conta com grandes nomes de pesquisadores e intelectuais que se propuseram, no meio do furação que representou o fim da experiência comunista na URSS e países satélites do leste europeu, analisar a conjuntura e as consequências que aquele fato traria para o futuro da humanidade e para o horizonte de expectativas políticas de uma grande parte da população mundial. Os textos foram escritos no calor da hora o que, todavia, não retira deles a densidade das análises propostas por nomes como Norberto Bobbio, Frederic Jameson e Eric Hobsbawm. Deste último, destacamos um excerto para demonstrar como este pensador do "breve século XX" refletiu sobre os desafios do futuro: "o que podemos dizer do vigésimo primeiro é que terá de enfrentar pelo menos três problemas, que estão piorando: o crescente alargamento da distância entre o mundo rico e o pobre (e provavelmente dentro do mundo rico, entre os seus ricos e seus pobres); a ascensão do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica do globo que nos afetará a todos". O livro é uma ótima oportunidade para aprender como foi ocorreu o fracasso do comunismo em meio à uma batalha de propagandas, armas e tecnologias que transformaram o mundo no período pós-Segunda Guerra Mundial. As contribuições dos autores permitem ao leitor passar de uma rede de fake news e estigmas políticos que grassam aos borbotões na contemporaneidade a uma compreensão real dos fenômenos que contribuíram para a decadência do comunismo. Mas e o socialismo? É também Hobsbawm que renova as esperanças de um "renascimento das cinzas" do socialismo no futuro. Para ele, no capítulo de encerramento da obra, os socialistas sempre defenderam uma outra sociedade, aquela que "não é apenas capaz de salvar a humanidade de um sistema produtivo que escapou ao controle, mas uma sociedade em que as pessoas possam viver vidas dignas de seres humanos: não apenas no conforto, mas juntos e com dignidade. É por esse motivo que os socialismo ainda tem um programa 150 anos após o manifesto de Marx e Engels".

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