terça-feira, 31 de agosto de 2021

1939: contagem regressiva para a guerra, de Richard Overy

Um livro essencial para quem deseja reviver, dia a dia, instante a instante a atmosfera de elevada pressão que antecedeu à eclosão da Segunda Guerra Mundial. O autor, renomado pesquisador sobre o período, elenca nos capítulos, as tomadas de decisões dos diferentes líderes envolvidos na escalada para o conflito bem como delineia a intensa teia de interesses que atravessa cada uma das nações. No panorama reconstruído por Overy, Hitler, Chamberlain, Daladier, Stalin e Beck (dentre outros líderes poloneses) são mostrados ao leitor com todas as suas características e objetivos principais. O autor não hesita em destacar cada uma das lideranças dentro dos contextos de crise e evidencia como cada um deles trata a situação analisada. O autor divide o livro em capítulo curtos, cada um deles tomando um espaço de alguns dias (24-26; 27-31; 1-3; 3) e uma conclusão que questiona: Por que a guerra? A pequena obra conta ainda com rica bibliografia que auxilia o leitor que deseja conhecer melhor esse período histórico tão profundo em transformações e arranjos-rearranjos políticos. O que se vê, ao longo destes poucos dias, é uma intensa negociação que perpassa todas as instituições das nações envolvidas bem como, não raras vezes, a atuação de indivíduos que buscam, sozinhos, uma mediação para os mais distintos interesses em jogo. O cenário para o desenvolvimento do drama, é o destino da Polônia, Estado recriado pelos vencedores no pós-guerra e a quem Hitler ameaça com uma invasão ao exigir a incorporação ao Reich da cidade livre de Danzig. O livro, apesar de curto, toca em pontos sensíveis para a historiografia do período e enfrenta com muita clareza os debates entre aqueles que acreditavam que Hitler desejava criar um império mundial ou uma área de influência à leste às expensas da URSS, tese à qual Overy se filia. Sobre o destino da Polônia, o autor apresenta uma das melhores sínteses: "A verdade gradualmente ficou clara para a liderança polonesa: o Ocidente jamais pretendera lutar em sua defesa", e sentencia, de maneira brilhante: "Como se viu depois, a Polônia foi traída pela guerra assim como a Tchecoslováquia foi traída pela paz".