quinta-feira, 16 de abril de 2020

The new faces of fascism: populism and the far right, de Enzo Traverso

Em breve, comentários sobre esta obra de Enzo Traverso!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Terceiro Reich: na história e na memória, de Richard J. Evans

A obra em questão, publicada no Brasil em 2018, é uma ótima oportunidade de aprendizado para todos aqueles que se interessam pela temática da Segunda Guerra Mundial e da experiência nacional-socialista, em particular. O historiador inglês Richard J. Evans, dono de uma vasta gama de livros sobre o assunto, pontua nesta ocasião, diversos conceitos e viradas historiográficas que ocorreram ao longo do período pós-Segunda Guerra. O autor dividiu a obra em sete capítulos e cada  um deles possui uma série de outras subdivisões que apresentam as observações de Evans sobre os assuntos mais variados tais como: a economia alemã, a solução final e a produção do Fusca dentre outros. O maior valor do livro, todavia, não reside na variedade das temáticas mas sim nas atualizações historiográficas que o autor avalia e discute. Temas como Zustimmungsdiktatur (ditadura por consenso) e a Volksgemeinschat (comunidade do povo), para dar apenas um exemplo, são expostos e debatidos com base nas leituras de Evans dos autores mais expressivos. O autor não se furta a criticar, todavia, com veemência os trabalhos de seus colegas da academia, como fez com o odioso trabalho de Daniel J. Goldhagen (Os carrascos voluntários de Hitler, 1997) e, para surpresa de muitos, de Timothy Snyder (Terras de sangue: a Europa entre Hitler e Stalin, 2012). Seja apontando as generalizações, as dubiedades ou, ainda, o desconhecimento de alguns autores sobre a historiografia de língua inglesa sobre determinado assunto, Evans não teme polêmicas e atua com bastante rigor em suas críticas, sempre muito pertinentes e fundamentadas. Uma decepção é o tratamento da questão da memória, pouco presente nos capítulos do livro e destacada na capa. Essa ausência resulta em perda muito maior quando se imagina o que um historiador como Evans poderia propor ao analisar um tema dessa natureza embasado nas discussões historiográficas que ocorreram ao longo do tempo! Entretanto, trata-se de uma obra muito interessante que, ao longo de suas quase 500 páginas, discorre sobre os temas mais debatidos na historiografia com rigorosa e densa análise. É praticamente um Reader daqueles que o leitor encontrava uma bibliografia comentada sobre algum grande tema. E valerá muito à pena consultá-lo, sempre! 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A eterna encruzilhada brasileira: autoritarismo, totalitarismo e democracia, de Leonardo Dallacqua de Carvalho e Luiz Alves A. Neto (orgs), 2019.



Publicada em 2019, a obra coletiva organizada por Leonardo Dallacqua e Luiz Alves Neto conta com a participação de vários autores que se propõem a pensar o autoritarismo, o totalitarismo e a democracia nos mais distintos campos de pensamento e atuação. Participo deste esforço com um capítulo onde procuro demonstrar como Mário Graciotti confeccionava o periódico Inteligência, cuja inspiração ele havia buscado em uma revista francesa que circulava em São Paulo, a Le Mois. A obra pode ser encontrada aqui: 

Inteligência: representações do cenário internacional e seus reflexos no Brasil 1935-1941, meu mesmo.



Fruto da pesquisa de doutorado, a obra analisa a trajetória do mensário paulistano Inteligência: mensário da opinião mundial e o insere no campo de estudos da história da imprensa no Brasil. Perpassando o cenário político (inter)nacional, o autor discorre sobre o trabalho editorial de Mário Graciotti, jornalista nascido em São Paulo no final do século XIX e que atuou em várias frentes da direita brasileira nos conturbados anos 1930-1940.







A invenção dos Direitos Humanos: uma história

Nos tempos coléricos que ora atravessamos, o próprio título do livro já causaria pavor em muitos cidadãos brasileiros. Esta sensação nasce, todavia, da ignorância daqueles que relacionam os Direitos Humanos à proteção de criminosos. Nada mais incoerente! Fruto de uma meticulosa pesquisa da historiadora norte-americana Lynn Hunt, cuja obra os pesquisadores brasileiros conhecem há anos, o livro responde à uma necessidade real do presente: debater e, principalmente, explicar sobre o contexto no qual tais garantias foram consideradas essenciais para o desenvolvimento da humanidade em geral. 


Depois da queda: o fracasso do comunismo e o futuro do socialismo, de Robin Blackburn (org).

Para os historiadores brasileiros, é sintomático que recentemente o comunismo tenha angariado tantos detratores em pleno século XXI. Envenenado pelo cenário de polarização política experimentado nos últimos anos por herdeiros deste embate ideológico da centúria passada, o debate acerca da política comunista e das características deste regime foram trazidos novamente à tona. Para tentar compreender este momento de ruptura, buscamos a leitura desta obra que conta com grandes nomes de pesquisadores e intelectuais que se propuseram, no meio do furação que representou o fim da experiência comunista na URSS e países satélites do leste europeu, analisar a conjuntura e as consequências que aquele fato traria para o futuro da humanidade e para o horizonte de expectativas políticas de uma grande parte da população mundial. Os textos foram escritos no calor da hora o que, todavia, não retira deles a densidade das análises propostas por nomes como Norberto Bobbio, Frederic Jameson e Eric Hobsbawm. Deste último, destacamos um excerto para demonstrar como este pensador do "breve século XX" refletiu sobre os desafios do futuro: "o que podemos dizer do vigésimo primeiro é que terá de enfrentar pelo menos três problemas, que estão piorando: o crescente alargamento da distância entre o mundo rico e o pobre (e provavelmente dentro do mundo rico, entre os seus ricos e seus pobres); a ascensão do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica do globo que nos afetará a todos". O livro é uma ótima oportunidade para aprender como foi ocorreu o fracasso do comunismo em meio à uma batalha de propagandas, armas e tecnologias que transformaram o mundo no período pós-Segunda Guerra Mundial. As contribuições dos autores permitem ao leitor passar de uma rede de fake news e estigmas políticos que grassam aos borbotões na contemporaneidade a uma compreensão real dos fenômenos que contribuíram para a decadência do comunismo. Mas e o socialismo? É também Hobsbawm que renova as esperanças de um "renascimento das cinzas" do socialismo no futuro. Para ele, no capítulo de encerramento da obra, os socialistas sempre defenderam uma outra sociedade, aquela que "não é apenas capaz de salvar a humanidade de um sistema produtivo que escapou ao controle, mas uma sociedade em que as pessoas possam viver vidas dignas de seres humanos: não apenas no conforto, mas juntos e com dignidade. É por esse motivo que os socialismo ainda tem um programa 150 anos após o manifesto de Marx e Engels".