segunda-feira, 27 de junho de 2022

NECROPOLÍTICA, de Achille Mbembe


Um ensaio de setenta páginas. Uma ideia a explicar. E por meio dela, perpassam diversas teorias e conceitos complexos das Ciências Humanas. Tal é o resultado da reflexão que Achille Mbembe propõe nesta obra fundamental para a compreensão da modernidade. O autor, que dialoga com a filosofia de Hegel e avança até Guatarri, discorre sobre a necropolítica a partir da conjugação de um tríplice olhar: o primeiro sobre o conceito de biopoder, de Foucault; o segundo sobre o estado de exceção e, por último, sobre o Estado de sítio. O arcabouço dessa perspectiva discorre sobre os acontecimentos político-sociais que se ampliam desde a Colonização até o Campo de Extermínio nazista e nas questões envolvendo palestinos e israelenses na contemporaneidade. No que se refere ao mundo colonial, o autor destaca que o sistema de plantation impõe ao escravo "uma tripla perda: perda de um 'lar', perda de direitos sobre seu corpo e perda de estatuto político". A partir de análises com essa densidade, é possível recorrer à historiografia do Brasil Colonial e estabelecer inúmeros diálogos com o livro de Mbembe. No que se refere à temática dos Campos de Concentração nazista, ainda que o autor deixe claro que eles não seriam o ponto fulcral da obra, há uma rica discussão sobre as rupturas e permanências presentes na construção deste espaço para a morte, dialogando com autores como Saul Friedlander, Enzo Traverso e Hannah Arendt. O diálogo com a produção acadêmica de temas tão diversos quanto o Atlântico negro e o Holocausto tornam o livro de Mbembe uma referência essencial no campo de estudo das políticas para o assassínio,  forjadoras da modernidade. 

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