quarta-feira, 13 de maio de 2020

As Benevolentes, de Jonathan Littell


Um livro arrebatador. Escrito em primeira pessoa, a obra desperta várias emoções nos leitores. Do ódio extremo ao nojo absoluto. As comparações com o livro de Tolstoi, Guerra e Paz, fazem todo sentido pois que aqui é possível acompanhar todo o desenrolar do conflito teuto-soviético entre os anos 1941 e 1945 do século passado. Trata-se de acompanhar, portanto, não apenas as estratégias da Wehrmacht para a invasão e ocupação da URSS. Mas, principalmente, de vislumbrar, a partir de um ponto de vista inédito, a perpretação dos crimes contra a humanidade efetuados pelos alemães em suas ações circunscritas na Endlösung, ou solução final do problema judaico no leste europeu. Os capítulos tem títulos que evocam música e esses ritmos se misturam às sensações que os leitores experimentam ao longo das quase novecentas páginas do livro. É certamente uma leitura essencial para todos os que se debruçam sobre o tema da guerra pois permite que reflita-se sobre os inúmeros casos de alemães que vivenciaram semelhante destino ou tiveram igual sorte. Riquíssima é também não apenas as descrições dos ambientes e das cidades elaborados pelo autor mas também as características psicológicas dos personagens e seus sofrimentos diante da guerra. Max Aue, personagem principal, foi construído magistralmente por Jonathan Littell e suas revelações ao longo do livro explicitam os embates morais de parte da humanidade envolvida nas trevas de um conflito que parecia sem fim. No limite, em diversas ocasiões, fica nítido como a guerra não poupa ninguém e que, incontáveis vezes, é apenas a sorte quem coloca a pessoa certa no lugar certo. Um percurso permeado por descobertas, do início ao fim, a obra termina por arrancar o leitor de um possível final clichê para o oposto disso: uma inflexão moral sem precedentes. É um livro aterrador e arrebatador. Uma leitura que merece ser feita lentamente para que tentemos refletir sobre tudo o que esse homem da SS tem a dizer. Dura lição do século XX aos amantes do progresso e da paz!

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