sábado, 4 de fevereiro de 2017







O novo livro de Robert Darnton, lançado no Brasil em abril de 2016 pela Companhia das Letras, tem muito a acrescentar ao debate historiográfico sobre a censura. Em primeiro lugar, destaque-se que a temática sempre remete à articulações com a ditadura e demais regimes autoritários como característica e prova da violência aos direitos fundamentais dos cidadãos erigidos durante e combatidos pelos inimigos da Revolução Francesa. Todavia, Darnton demonstra que além de balizar e matizar a censura é também necessário entender seu funcionamento e suas práticas. O resultado dessa assombrosa pesquisa é uma obra em que o leitor acompanha o trabalho do censor pari passu com as consequências para escritores e leitores. Os cenários são os mais distintos possíveis: a França dos Bourbons, a Índia britânica e a Alemanha Oriental. Por todos eles perpassam os tentáculos do Estado cuja preocupação com a publicação de obras contrárias aos governantes ou mesmo ofensivas à moral mobilizavam imenso contingente de censores. Leituras, prisões, averiguações, investigações, foram processos que, ao longo do tempo, se fizeram presentes nos lugares pesquisados pelo autor. A leitura da obra de Darnton além de enriquecer a compreensão sobre uma problemática tão complexa instiga reflexões sobre esta mesma questão no Brasil, onde as relações entre imprensa e Estado foram muito conturbadas. Trata-se, como se pode notar, de uma obra muito valiosa não apenas para pesquisadores que se debruçam sobre a galáxia de Gutenberg mas também para o público não especializado que pretende conhecer um pouco mais da história da França, da Índia e da Alemanha e de suas idiossincrasias.

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